O IBOPE divulgou ontem a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, que mediu algumas variáveis importantes para determinar o comportamento do eleitor brasileiro nas eleições de 2018. Os números são interessantes-alguns surpreendentes-e ajudam nas previsões quanto aos resultados da eleição.
Inicialmente, mediu-se o grau de otimismo dos eleitores quanto às eleições de 2018. A maioria, 44% se disse pessimista. Dentro desse grupo, os principais motivos apontados para o pessimismo foram: corrupção (o mais citado), falta de confiança no governo e candidatos e falta de opções para votar. Já 20% da população está otimista com a eleição e citou, como motivos principais: mudança/renovação, esperança no voto/participação popular e melhoria em geral. Também foram citados as possíveis vitórias de candidatos na eleição presidencial: Lula e Bolsonaro. Logo de cara, nota-se que o sentimento geral em relação às eleições é de mudança, ou seja, oposição.
A seguir, os entrevistados foram instados a traçar o perfil ideal do próximo Presidente. Eis as características mais desejadas: ser honesto, nunca ter se envolvido com corrupção, transmitir confiança, ter pulso firme e ser sério. Também é necessário conhecer os problemas do país, ter experiência em assuntos econômicos, ter boa formação educacional e boa relação com movimentos sociais. Além disso, 79% concordam em parte ou totalmente que é importante o próximo Presidente acreditar em Deus. Por fim, 72% dizem concordar em parte ou totalmente que é desejável ao candidato ter experiência como prefeito ou governador. Dessa gama de características, Bolsonaro é quem preenche a maior parte delas (peca na ausência de conhecimento econômico e na falta de experiência no Executivo). Geraldo Alckmin também se enquadra em boa parte delas, inclusive na parte da experiência, porém não é um candidato oposicionista.
Quanto às prioridades do mandato do próximo governante, a pesquisa traz dados surpreendentes. 84% dos brasileiros acham importante o próximo Presidente defender o controle de gastos públicos, superando os 72% que julgam importante defender as políticas sociais e os 78% que defendem a transparência administrativa. Esses dados mostram ser viável a agenda de reorganização do Estado, com privatizações e revisão de salários e aposentadorias do alto funcionalismo, com uma agenda de políticas sociais focalizadas. O brasileiro é “neoliberal” (por mais que essa palavra seja demonizada diuturnamente) e ainda não sabe. Para 44%, o foco do novo Presidente deve ser a melhoria de serviços públicos e redução da desigualdade social, já para 32% deve ser o combate à corrupção e punição de corruptos. Ou seja, além do discurso “neoliberal”, o candidato ideal deve ser capaz de promover um expurgo de corruptos, reforçando a importância da honestidade.
O IBOPE abriu a pesquisa para mostrar diferenças entre classes sociais e idades em algumas questões. Chama atenção que um candidato outsider contasse com maior apoio entre aqueles com ensino fundamental, variando de 50% a 55% a preferência por alguém de fora da política, do que um político tradicional. O dado mostra que o apresentador Luciano Huck, caso fosse candidato, teria imenso potencial de crescimento no núcleo duro do eleitorado lulista, que deverá ficar órfão do ex-presidente na eleição.
Por fim, a pesquisa trouxe um dado que contradiz algumas expectativas: o PT segue como partido com maior preferência nacional, com 19%. É um dado relevante, demonstrando que o partido terá força para eleger um bancada expressiva na Câmara dos Deputados (principalmente se alguns caciques locais abdicarem de disputar o Senado ou Governo do Estado, para concorrer à Câmara), mantendo-se como partido hegemônico na esquerda brasileira.
Em linhas gerais, a pesquisa confirma análise anterior deste blog e coloca Jair Bolsonaro como candidato fortíssimo nas eleições de outubro. Se houvesse uma intersecção de todas as principais características exigidas pelo eleitor, o deputado fluminense (mesmo que apenas na aparência), consegue se encaixar na maior parte delas. Deve agradecer a Luciano Huck, pois a candidatura do apresentador poderia tumultuar e mudar o cenário da eleição. Ao mesmo tempo, tudo indica que o PT é quem vai liderar a oposição num eventual governo Bolsonaro, fazendo uma bancada relevante no Congresso, a partir de sua preferência junto à população.